Desci as escadas correndo, bolsa em uma mão, chave na outra, celular equilibrado entre o ombro e o ouvido. Entrei rápido no táxi, dizendo apenas um “oi, tudo bom, estou indo para o lugar tal”. Falava com meu pai ao telefone, tentando certificar-me de que ele estava bem, já que sua voz não parecia muito boa. Quando desliguei e respirei fundo, vi os olhos do taxista pelo retrovisor, ensaiando como me dizer algo.
- Você me lembra a minha filha. Ela fala parecido com você quando me liga. Sempre pergunta “pai, tá tudo bem? Por que você está com essa vozinha?”. E eu sempre respondo “não é nada, filha. É que as vezes quando a gente fica sem conversar durante muito tempo a voz parece que some”.
Enquanto fazia uma curva, ele virou-se pra mim com um sorrisinho.
- Não é assim que funciona mesmo? Quando a gente fica muito tempo sem falar, parece que a garganta agarra.
E eu fiquei ali matutando sobre o que ele tinha dito; talvez se referia à sensação física de estar rouco, mas tenho para mim que poderia ser mais que isso. Talvez ele fosse amigo demais do silêncio mesmo.
Fui dando trela à conversa, falei sobre pais e filhos e como as relações são parecidas. Perguntei mais sobre a sua filha, quantos anos tinha, se ele tinha outros filhos, há quanto tempo era taxista. Ele pulou a pergunta dos filhos.
- Sou aposentado e uso o táxi durante algumas horas do dia por conselho médico, depois de ter ficado muito deprimido com a morte da minha mulher. Foi em 2007. Eu trabalho aqui em BH, só que moro em Lagoa Santa. Tenho um sitiozinho lá, com pato, porco, essas coisas.
Perguntei, sei lá porque, se tinha galinha d’ángola. Ele disse que tinha uma só e era muito estressadinha. Achei graça da ideia. Iimaginei a tal galinha andando nervosa pelo quintal, xingando as minhocas.
Antes de sair do táxi, comentei que ele tinha um nome muito interessante: Florduardo.
- Foi meu pai quem me deu, em homenagem ao Guimãraes Rosa. Esse era o nome do pai dele. Eu sou de Cordisburdo, a terra do Guimarães. É um nome comum por lá.
Ele me deu uma explicação tão “técnica” que parecia que já tinha repetido-a mil vezes. Eu quis saber se ele realmente gostava do nome.
- É claro que eu gosto. As duas pessoas que mais me amam no mundo escolherem esse nome para mim. Por que eu não gostaria dele?
***
Bolo amanteigado de rum
Sabe uma coisa simples e surpreendente, assim como o seu Florduardo? É o caso desse bolo. Você não dá nada por ele até que morde o primeiro pedaço. Macio e com partes úmidas de rum, ele tem sabor de café da tarde com um “twist”.
Inspirado daqui
Ingredientes
Bolo:
- 3 xícaras de chá de farinha de trigo
- ¼ colher de chá de bicarbonato de sódio
- ½ colher de chá de sal
- ¾ colher de chá de noz-moscada ralada na hora
- 1 xícara de chá de manteiga sem sal, amolecida
- 2 ¼ xícaras de açúcar cristal, de preferência orgânico
- 4 ovos grandes
- 2 colheres de chá de extrato de baunilha
- 1 xícara de buttermilk*
- 3 colheres de sopa de rum escuro
Calda:
- ¼ xícara de manteiga sem sal
- ¼ xícara + 2 colheres de sopa de açúcar cristal
- ¼ xícara de rum escuro
- ¾ colher chá de extrato de baunilha
Como faz
1. Pré-aqueça o forno a 180°C. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma com furo no meio de 25cm de diâmetro. Se a sua forma for menor do que isso, prepare-se para sobrar um pouco de massa (que pode virar cupcakes ou um bolinho menor).
2. Em uma tigela média, peneire a farinha, o bicarbonato, o sal e a noz-moscada. Reserve.
3. Na tigela da batedeira, em velocidade média, bata a manteiga por cerca de 4 minutos. Junte o açúcar aos poucos, em três adições, batendo por um minuto a cada vez.
4. Junte os ovos, um a um, batendo também por cerca de um minuto após cada adição. Lembre-se de ir raspando as bordas da tigela de vez em quando. Acrescente a baunilha.
5. Em velocidade baixa, acrescente a mistura de farinha em três adições, alternando com o buttermilk em duas adições (comece e termine com os ingredientes secos). Novamente raspe as laterais da tigela.
6. Junte o rum e bata por 30 segundos.
7. Transfira a massa para a forma preparada e alise a superfície. Asse por 55 minutos ou até que o bolo cresça e doure (faça o teste do palito). Deixe o bolo esfriar dentro da forma enquanto prepara a calda.
8. Para a calda, coloque a manteiga, o açúcar e o rum em uma panelinha – não use panela de alumínio, cobre ou ferro – e leve ao fogo baixo, mexendo. Deixe ferver por cerca de 2 minutos, desligue o fogo e junte a baunilha.
9. Fure então todo o bolo, ainda dentro da forma, com um palito grande (que tenha a altura do bolo para poder umedecer todo ele) ou uma faquinha. Entorne a calda, bem devagar, dando tempo para que ela seja absorvida pelo bolo. Deixe o bolo esfriar e, para ajudar na hora de desenformar, passe uma faquinha nas laterais, bata um pouco a forma numa superfície lisa, para que o fundo se solte, e desenforme no prato que irá servir.
* Para fazer uma xícara de buttermilk, é preciso colocar 1colher de sopa (15 ml) de vinagre ou suco de limão na xícara, completar com leite e deixar descansar por 10 minutos.
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