“As pessoas mentem sobre um monte de coisas, mas você não pode mentir sobre o que você gosta de comer ou não. O seu gosto para comida é a expressão verdadeira de quem você é”. Quando ouvi a Nigella Lawson falando isso numa entrevista, nunca mais esqueci. Gosto é realmente algo impossível de esconder. Bom, se não impossível, bastante difícil. Talvez seja a mentira mais custosa.
Quando era adolescente, comi uma carne moída MUITO salgada na casa de uma amiga. Todos na mesa estavam almoçando normalmente e eu não conseguia entender como ninguém estava precisando de dois litros de água para engolir a comida. E nessa família líquidos eram proibidos durante a refeição. Como eu não conseguia disfarçar minha cara na mesa, eu fingia que estava com o nariz escorrendo e fazia intervalos no banheiro, bebendo água da pia como um gato sedento. Só assim consegui terminar o prato todo.
A pior lembrança é de quando uma colega de trabalho me hospedou pelo fim de semana na época em que morava nos Estados Unidos. A mãe dela, querendo agradar, resolveu fazer um almoço para que a família inteira me conhecesse. Me perguntou se eu gostava de peixe e eu disse que sim. Mais tarde, ela me contou que nunca tinha preparado peixe e estava esperando essa oportunidade, já que ninguém mais na casa gostava. Eu devia ter desconfiado ali.
Quando a comida ficou pronta e estávamos sentados na mesa, ela apareceu com um tipo de ensopado de peixe e colocou na minha frente, avisando que aquele era só meu. Me senti muito agradecida e, toda satisfeita, pus um pedação no prato. Quando coloquei a primeira garfada na boca… o peixe estava claramente estragado. E com um gosto meio oleoso. Lembro exatamente do desespero que me bateu. Eu olhava pros lados, comia um purê de batatas, me embebedava de refrigerante. Mas tive que comer pelo menos o que estava no prato. Não tinha outra saída – o prato tinha sido feito só para mim! Foram minutos de terror.
Nós, mineiros, poderíamos até contestar essa afirmação da Nigella, dizendo que em nome do medo de fazer desfeita a gente mentiria sobre o gosto, sim. Ô povo preocupado em agradar. Só que não é bem assim. Podemos até tentar disfarçar, mas o olhar tenso vai denunciar que você não gosta de comer aquilo. Se não for o olhar, vai ser aquela gotinha de suor que brota no cantinho da testa, sabe? Aquela de nervoso? Essa não mente.
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Peixe frito na cerveja e batatas assadas com alecrim
Essa é a minha versão do famoso prato inglês “fish and chips”, mas aqui eu deixo a fritura só para o peixe. A verdade é que eu raramente faço frituras em casa: não gosto da bagunça e sei que não é saudável. Mas tudo de vez em quando não faz mal. E esse peixe crocante e sequinho faz a exceção valer a pena.
Rendimento: 4 porções
Ingredientes
Para o peixe
- 650 gramas de peixe com carne branca, tipo cação, pintado ou merluza
- 1 e ½ xícara de farinha de trigo
- ½ xícara de maizena
- 2 colheres de chá de sal
- ½ colher de chá de pimenta caiena
- ½ colher de chá de páprica
- Uma pitada de pimenta do reino
- 1 colher de chá de fermento em pó
- 350 ml de cerveja gelada
- Óleo de canola para fritar
Para as batatas
- 600 gramas de batatas (cerca de 5 batatas, dependendo do tamanho)
- 3 colheres de sopa de azeite
- 2 dentes de alho
- Galinhos de alecrim
- Sal à gosto
Como fazer
1. Comece pelas batatas. Pré-aqueça o forno a 200 graus. Corte as batatas em cubos de cerca de 3 cm. Coloque-os numa panela e cubra com água. Acrescente uma colher de sopa de sal e coloque no fogo alto. Quando ferver, escorras as batatas. Em seguida, aqueça o azeite numa frigideira ou outra panela que possa ir ao forno. Junte as batatas pré-cozidas, o alho com casca e as folhinhas de alecrim. Tempere com um pouco de sal e pimenta. Mexa com uma colher por cerca de 30 segundos, envolvendo todos os pedaços no azeite. Leve ao forno por cerca de 20 minutos.
2. Enquanto as batatas estão no forno, tempere o peixe com sal e pimenta e corte-o em pedaços médios. Deixe-os absorver o tempero por alguns minutos e depois seque cada pedaço com papel toalha ou um pano limpo.
3. Separe duas tigelas. Na primeira, misture a farinha, a maizena e os temperos, mexendo bem. Depois, retire ¾ de xícara dessa mistura e transfira para a outra tigela. Nessa segunda, junte o fermento em pó e vá colocando a cerveja aos poucos, misturando com um fouet. A mistura deve ficar grossinha, como uma massa de panqueca. Pode ser que você não precise usar a cerveja toda.
4. Cheque a batata: os pedaços devem estar dourados e sequinhos. Se ainda não estiverem, aproveite para mexer um pouco a panela.
5. Coloque dois dedos de óleo numa frigideira e aqueça no fogo alto. Passe os pedaços de peixe primeiro na farinha, tire o excesso, depois na massa de cerveja, envolvendo bem e novamente na farinha. Vá deixando os pedaços prontos numa assadeira. Quando o óleo estiver quente (teste colocando o cabo de uma colher de pau na panela. Se formarem muitas bolhas em voltam dele, está ok), frite os pedaços, virando-os assim que um dos lados estiver dourado. Vá controlando a temperatura do óleo durante a fritura, não deixando que fique quente demais, e frite alguns pedaços por vez. No final de cada fritura, coloque os pedaços em papel toalha.
6. Retire as batatas do forno e coloque-as num prato com papel absorvente. Sirva quente, junto com o peixe.